Entrevistas

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ENTREVISTA COM O CASAL JOAQUIM NUNES RIBEIRO (84 ANOS) E COM MARIA LUSIA COSTA RIBEIRO.

HM – Seu Joaquim e dona Maria, onde vocês viviam lá no Arari?

Joaquim Ribeiro – Meu pai morava bem ali naquele trecho que entrava na rua da casa de Joca Ribeiro.

HM – Que ia pro cocal?

Dona Maria – É, o cocal era do pai dele.

Joaquim Ribeiro – É a ilha, como nós chamávamos aquela área. Uma parte dela pertencia a Antonio Leite, que depois foi vendida para Manoel de Sousa.

HM – Dona Maria José (Saraiva), na entrevista que fiz com ela(e que está neste site) faz referência ao seu pai como fazendeiro. Com que mesmo ele trabalhava e quantos filhos teve?

Joaquim Ribeiro – Meu pai era criador de gado e era também agricultor. Ele

casou-se duas vezes: do primeiro matrimônio, nasceram Luís Ribeiro, Inez e Joana; do segundo, nasceram Isabelinha, Isabel, Osvaldo, Zé Ribeiro, Joca Ribeiro, Antonia, Maria Ribeiro, Zuleide, Manoel Ribeiro(que era chamado de Jesus, e é pai de Manoel Ribeiro, deputado), Elisa, eu, Terezinha e Beni.

HM – E o seu pai, dona Maria, fazia o quê?

Dona Maria – Meu pai era João Francisco da Costa, conhecido por João Chico.

Joaquim Ribeiro –  O pai dela era suplente do juiz…

Dona Maria – É, papai substituía Thiago Fernandes, quando havia impedimento dele de realizar casamentos, em razão de parentesco com os que iam casar.

Joaquim Ribeiro – Tiago Fernandes era o homem mais inteligente que havia no Arari, nessa época; ninguém fazia nada sem consultá-lo.

HM – Quantos filhos vocês tiveram?

Joaquim Ribeiro – Eram 11, ficaram 10, porque Paulo morreu de infarto.

Joaquim Ribeiro – O mais velho é Seu Lucas(Lucas Neto), que é juiz estadual.

Aguarde a continuação da entrevista.

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EMBARCAÇÕES DO RIO MEARIM

HM – Seu Joaquim, vamos falar das embarcações que navegavam pelo rio Mearim. Que tipos o senhor conheceu?

Joaquim Ribeiro – Eu conheci vapor, lancha e batelão.

HM – Quais os vapores que o senhor conheceu?

Joaquim RibeiroConheci o vapor Rui Barbosa e o vapor Barão, que faziam a viagem daqui de São Luís até Pedreiras-MA, quando o inverno era grande. Eles rebocavam umas barcas de ferro…

HM – E os batelões?

Joaquim Ribeiro – O maior batelão que eu conheci foi um batelão chamado FLORESTA, que pertencia à empresa Tavares; ele pegava 3.800 sacos de arroz, de 60 kg. Os batelões não tinham motor; eles eram rebocados pelas lanchas e serviam só para carregar mercadorias.

O finado Zé Ribeiro, meu irmão, também tinha um batelão por nome Dois de Maio, que pegava mil sacos.

HM – E as lanchas?

Joaquim Ribeiro – Primeira lancha que conheci foi a Santa Rita, que era de Aracaty Campos. Depois, conheci a São Benedito, Estrela Branca, Estrela Polar, Estrela Astreia, Estrela do Mar, Estrela Aurora, Santo Antonio(uma lancha menor, que só viajava até o Arari) e a São José Tavares, que Aracaty Campos comprou. Era uma lancha de toldo e meio, que foi pro fundo na Boca do Rio. Essas todas eram lanchas de Aracaty Campos, e quase todas tinham dois toldos.

Agora, tinha as lanchas São Paulo e São Pedro, que eram do meu irmão José Ribeiro, em sociedade com Zezinho da Mata. Eu trabalhava nas lanchas do meu irmão.

HM – Essa é a lancha Bacabal. O senhor lembra dela?

 Joaquim Ribeiro – Muuuuito. O comandante dessa lancha era até casado com uma tia de Maria; era Albino Fernandes. Os donos dessa lancha era uma firma de Bezerra.

HM – Que mercadoria essas lanchas transportavam?

Joaquim Ribeiro – Saindo de São Luís, a mercadoria transportada era café, açúcar, sabão, querosene, sal, carvão, etc, e, para voltar a gente carregava de côco babaçu, caroço de algodão, fardo de algodão e arroz.

HM – Elas faziam o papel de supermercado ambulante, não era?

Joaquim Ribeiro – Era, porque quando passava do Arari para a frente, a gente ia encostando em toda morada e ia vendendo as coisas.

HM – Quais os locais de Arari para a frente que as lanchas paravam?

Joaquim Ribeiro – Parava no Arari, na Vitória,  no Ubatuba, na Boca do Rio (Grajaú), no São Benedito, no Santarém, no Paiol, no Criminoso, no Tarumã, na Laje Comprida (que era desses Macieis), aí a gente ia subindo; parava no Aratoí, no Porto da Parida, onde a gente deixava mercadoria que ia para Satubinha, e ia até o Furo Atolador.

HM – Como vocês lidavam com a entupição do rio, por mururu?

Joaquim Ribeiro – Para fugir dela, a gente desviava pelos canais que havia. Quando entupia o rio, os campos também ficavam todos cheios, e a gente ia por eles, procurando aquele lugar mais limpo, e saía lá adiante; saía no Lago das Itãs. Do lago das itãs para cima, não tinha mais entupição.

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RIBEIROS, NA POLÍTICA ARARIENSE

HM – Esses ribeiros chegaam a se envolver em política de Arari?

Joaquim Ribeiro – Muito, muito. Nezico Ribeiro é meu sobrinho e foi até deputado. Maria Ribeiro, minha irmã, foi prefeita de Arari. Joca Ribeiro era político.

HM – Bembém era da família?

Joaquim Ribeiro – Bembém era irmã da mulher de Zé Ribeiro.

ANTONIO SANTOS

HM – O senhor foi aprendiz de carpinteiro, com o Sr Antonio dos Santos?

Joaquim Ribeiro – É, eu apendi lá uns tempos. Carpina. Nesse tempo, as casas era tudo feita de madeira. Antonio dos Santos era o maior carpina daquela época, e empreitava para fazer as casas, que eram sempre bem-feitas, bem seguras. Então, nós éramos aprendiz e nós íamos pra lá, pra ajudar.

HM – O senhor lembra de alguma das casas que foram feitas por seu Antonio Santos?

Joaquim Ribeiro – A casa do finado Zé Ribeiro, a casa de João Ericeira(que depois foi de Diquinho Fernandes) e outras.

II GUERRA

HM – Seu Joaquim, o senhor chegou a ser convocado para lutar na II Guerra mundial?

Joaquim Ribeiro – Não, mas os irmãos de Maria foram. Vieram para S. Luis e foram até a praia do caju para embarcar. Foram José Silvestre e Benedito Costa, que já morreram.  Quando foi para eles embarcarem, veio a notícia de que a guerra tinha acabado.

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PEDRO SARAIVA

HM – O senhor conheceu Pedro Saraiva?

Joaquim Ribeiro – Muito. Era tio de Maria.

Dona Maria – Pedro Saraiva era meu tio; meu pai era irmão dele, só por parte de mãe. Nessa casa de engenho tinha 5 relógios de parede; quando dava nove horas, por exemplo, tocavam todos juntos, o da sala, do quarto da copa…

Joaquim – Ele era um homem muito organizado, Pedro Saraiva. Teve duas casas de engenho: uma lá(no Batuba) e outra no Barreiros.

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FOTO HISTÓRICA

HM – Esta é uma das fotos mais importantes de Arari, porque nessa rua é que ficavam as principais casas e instituições políticas de Arari, mas hoje praticamente não existe mais nada; a rua e muitas casas já foram completamente destruídas pela erosão, sem que os governantes fizessem um cais duradouro. Ela foi batida pelo seu José Ribeiro, que chamavam de Zé Padre.

 

 Joaquim Ribeiro – Zé Padre era neto de finado Toneco; ele era filho de Tiago Ribeiro, que era irmão de Enilde Ribeiro. Tiago Ribeiro era sobrinho do meu pai. Aqui era a ponte velha, depois, ficava a casa de Jorge Cominho, depois dessa casa velha morava Luís Ribeiro (meu irmão), Antonio Garcia, aí tinha o beco; depois vinha Abrão Salomão, Zezinho Ourives, depois, morava um coletor federal, chamado Akin, e mais adiante ficava a capitania. Aí, vinha o pátio da igreja.

Dona Maria – Deixe eu lhe contar uma coisa. O senhor sabe quando a frente da igreja do Arari ficava muito bonita? Quando era semana santa. As lanchas iam chegando e ficava cheinho de lanchas naquele porto da igreja. Nesse tempo, a rua era larga!! Quando o padre estava celebrando a missa para romper a aleluia, e o sino tocava, as lanchas e os batelões saiam todos juntinhos, tocando foguete e apitando. Tinha gente que chorava! A Estrela Branca apitava até sumir na curva do rio.

Seu Joaquim – O comandante dessa Estrela Branca era Nemézio.

Dona Maria traz umas fotos para eu ver, e, entre elas, está uma bem pequeninha, de uma senhora. Pergunto que era.

Joaquim – Essa é Áurea Carvalho. Ela era enfermeira. Nesse tempo, ninguém aplicava injeção na veia, mas ela aplicava; ela casou com Dico de Manduca, que era comandante de lancha.

Dona Maria – Era uma grande pessoa; o sogro dela morava defronte daquele Cruzeiro, onde ficava a Cotonière; quando a gente tinha qualquer problema de saúde, ia aonde Áurea, que ela passava o remédio na hora.

HM – E este aqui, quem é?

Joaquim Ribeiro – Sou eu, no Lago da Morte, na década de 1960.

Hilton Mendonça agradece ao casal pelas valiosas informações prestadas nessa entrevista, que muito será útil aos futuros ararienses ou descendentes de ararienses, que tenham interesse em conhecer um pouco das suas próprias origens.

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Em 2/2/2010, ESTIVE NA CASA DO SR. JOAQUIM E DE DONA LUSIA SANTOS E ALI ENTREVISTEI O CASAL, E TAMBÉM O ILUSTRE JOSENIR, IRMÃO DO SEU JOAQUIM.

II GUERRA MUNDIAL

HM – Seu Joaquim, é verdade que o sr. foi convocado para lutar na II Guerra Mundial?

Joaquim – Sim, é verdade. Eu fui convocado em 1942. Passei 20 dias no quartel daqui, de São Luís, fazendo exames. Eu ia para o Rio e do Rio tinha que ir para a Itália. Mas fui dispensado. Eu fiquei muito zangado, porque queria ir para a guerra. Mas depois que terminou a guerra, e vinham aquelas revistas… aí eu disse: graças a Deus, que eu não fui.

HM – Como foi a sua dispensa da guerra?

Joaquim – Foi por meio de Benedito Mendonça, que era o maestro da banda do exército.

HM – Que outros ararienses foram convocados para lutar na II Guerra?

Joaquim – Foram convocados Eu, Justino Vieira, Balbino (irmão de Manoel de Jesus), Felix Sousa (do Perimirim), Aristides.

Josenir – Sérgio Chaves e Mitinho, de Pantaleão, também foram chamados.

Joaquim – Sérgio Chaves e Justino Vieira ficaram no Rio, mas não embarcaram para a guerra. Foram dispensados também.

HM – Desses convocados, quantos realmente embarcaram para a Itália?

Joaquim– Foram o Balbino [Balbino Azevedo Costa, irmão de Manoel de Jesus Costa] e o Felix. O Balbino foi baleado, de raspão, na cabeça. Depois da guerra, ele foi para São Paulo; chegou a ser chefe da estiva lá.

Dona Lusia –  Mas ele voltou para Arari e se casou com uma filha de Du Bem. Lá é que ele morreu, em Arari. Não sei se ele teve filho com essa menina.

Josenir – Teve um que foi convocado, mas cortou o dedo para não ir pra guerra.

HM – Quem foi?

Joaquim – Foi o Dedo no Gatilho. Cortou o dedo da mão direita (risos).

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LÉLIS SANTOS

HM – Vocês sabem quem são esses dois que aparecem nesta foto com Lélis?

Joaquim – Não sabemos.

 

HM – E essas casas que aparecem nessa foto, a quem pertenciam?

Joaquim – Essa casa (a primeira, à esquerda) era de Herculano, que ficava de canto, na praça. Nela morou Benedito Ericeira, casado com Cota.

Josenir – Depois de Herculano, morava Cidoca, filha de dona Corina.

 

HM – Nessa foto, aparecem o senhor e o Lélis. Como era o nome completo dele?

 

Dona Lusia – Raimundo Lélis dos Santos.

Joaquim – Isso é 64, ano em que ele morreu.

 

HM – Qual era a doença do Lélis e onde foi enterrado?

Joaquim – Ele sofria de Leucemia. Tinha 23 anos. Faltava um ano para se formar, em Agronomia, quando morreu. Ele estudava em Belém-PA.

Dona Lusia – Ele foi enterrado aqui, em São Luís, no cemitério Gavião.

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LANCHAS

HM – No rio Mearim, na eram muitas as embarcações que por ele navegavam, e muitos ararienses trabalharam nelas. Quais embarcações o senhor sabe que navegavam  por esse rio?

Joaquim – A maioria das lanchas e batelões que circulava no rio Mearim pertencia à Empresa de Navegação São Luís, de propriedade de Aracaty Campos.

Dona Lusia  – Essa empresa era muito rica; ela tinha 40 embarcações, entre lanchas e batelões.

Joaquim – Na época, era essa empresa que fazia os correios; tinha um marinheiro responsável só por guardar as malas, na lancha, e entregá-las no Arari, e em outros municípios do Mearim, Pandaré, Cajapió. Mas tinha os dias certos de transportar essas malas: era dia 7, 17 e 27.

Dona Lusia – Dia 11, 21 e 31.

Joaquim – Eles tinham um contrato com o Governo Federal…

Dona Lusia – Foi com essa empresa que o pessoal de Arari teve seus primeiros empregos de marítimo. Os rapazes iam crescendo, e já ia se empregando nas lanchas.

Joaquim – 90% dos marítimos era de Arari.  Tinha muitos marinheiros que não sabiam assinar o nome. Tinha viagem de ter 100, 110 pessoas, em viagem daqui para Pedreiras. Em todos esses portos tinha passageiros. Na volta, era a mesma coisa.

 

HM – Que  lanchas essa empresa possuía?

Joaquim – Tinha a Estrela Astreia, Estrela Dalva(era uma lancha baixinha), a Estrela do Mar, a Estrela da Aurora, a Estrela Polar, Estrela Branca, e outras.

 

HM – Em quais embarcações o sr. trabalhou?

Joaquim – Eu comecei na Estrela Astreia, como servente. Essa lancha pertencia à empresa de navegação São Luís, de  Aracaty Campos. Aracaty Campos era o dono dessa empresa (ele fumava charuto importado!); ele era do Rio ou de São Paulo, não me lembro bem.

Dona Lusia – Quando elas passavam lá na beira do rio, no Perimirim, a gente via a lancha repleta de redes.

Joaquim – Foi no primeiro governo de Sarney que ele começou a abrir estradas para toda parte da baixada, que não tinha nada de estrada…

Dona Lusia – Aí, foi diminuindo a navegação.

 

HM – Dessas lanchas do empresário Aracaty Campos, quais tinham um e quais tinham dois toldos?

Dona Lusia – A Estrela Astreia, Estrela Aurora, Estrela Branca, Estrela Polar tinham dois toldos; a Estrela Dalva era baixinha, de um toldo só; e a Estrela do Mar tinha um toldo e meio.

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ECLIPSE

Josenir, para Joaquim: Conta aí aquela história do eclipse, que teve lá no Arari.

Joaquim – O Manoel de Jesus morava lá em casa, e, quando veio o eclipse ele, com muito medo, caiu naquela escada lá de casa e dizia: “Eu vou morrer, papai. Eu vou morrer, papai”. Isso levou foi horas! Tu te lembras, Luisa?

Dona Lusia – Me lembro! Eu tava no colégio. Eu era muito pequena; devia estar com meus 10 anos.  Foi escurecendo aos poucos; umas nove horas, mais ou menos, parou de vez… A gente botava bacia d’água, lá no colégio… aí, a gente via a lua passando por cima da sol.

 

HM – Em que ano foi esse eclipse?

Dona Lusia – Acho que foi por volta de 1938 ou 1940.

Josenir – Escureceu tudo; o sol sumiu; foi preciso acender lamparina. Aí, mamãe dizia: “bate em lata para não matar as plantas, meus filhos!”. De dia, ficou tudo escuro. As criações subiram todas para os poleiros.

 

HM – Esse Manoel de Jesus que morava lá, na casa de vocês, era de cor negra?

Joaquim – Era. Ele foi morar lá em casa. Era aprendiz de carpinteiro e se considerava irmão da gente. Chamava papai de pai.

Dona Lusia – Ele é pai de José Raimundo.

HM – E de José Maria Santos, que estudou comigo, no Colégio Arariense.

 

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ANTONIO, PROFESSOR.

HM – Quem foram os aprendizes de carpinteiro que seu pai ensinou?

Joaquim – Ele ensinou Pedro Charuto, Manoel de Jesus, Zé Lopes, Neuzo, Norberto, Joaquim Ribeiro. Manoel de Jesus e Pedro Charuto moraram conosco.

 

HM – Quem era esse Ribeiro?

Dona Lusia – O pai dele era irmão de Lucas Ribeiro, que era avô de Nezico.

Josenir – Tinha outro Ribeiro, que morava na beira do Igarapé.

 

HM – Então, o sr. Antonio Santos teve um papel importante na formação profissional de muitos ararienses.

Joaquim – Teve. Meu pai era carpinteiro e marceneiro de mão cheia. Quando terminava um serviço, já tinha outro. O cassino de Manoel Abas foi papai quem construiu. Ele trabalhou muito tempo para Pedro Saraiva, fazendo carro-de-boi. Ele também fazia casa e assoalho.

 

HM – Pedro Saraiva era o pai de Clemente Muniz, meu avô. Fiz uma entrevista com dona Maria José, que mora em Salvador, filha dele com dona Raimunda.

Josenir – Mundica Ribeiro é que era a mãe de Maria José. Chamava Dica Caturro, por que ela era baixinha. Ela é que tomava conta de tudo, na casa de Pedro Saraiva; havia diversos galinheiros lá no pátio; de manhã ela ia coletar os ovos, enrrolar em folha de bananeira, para mandar para São Luís.

Joaquim – Papai ainda tocou na festa de Manoel Abas.

 

HM – Ele tocava o quê?

Joaquim – Tocava clarinete, quando era novo, quando era rapaz. Papai também foi prefeito… Ele assumiu por uns 6 meses, em substituição a Pemba, se não me engano; ele era vereador.

 

HM – Quantos filhos seu Antonio teve?

Joaquim – Onze. Ainda tem 6 filhos vivos. Zizi, Rosa, Zezé, Aldenira, Joaquim e Josenir.

A mais velha era Tunica, mulher de Neuzo. Papai trabalhou muito para criar 11 filhos.

 

HM – E quantos filhos o senhor tem?

Joaquim – Tenho 5.

 

HM – E tu, Josenir, tens quantos filhos?

Josenir esboça um sorriso, vira a cabeça, e nada responde. Eu repito a pergunta.

E tu, Josenir, tiveste quantos filhos? Ele ri de novo, fica desconsertado, e eu modifico a pergunta: não tiveste filhos?

Josenir declara – Tive dezoito filhos.

Dezoito filhos!!!!!, exclamo eu, e digo: Josenir, tu bateste o recorde.

Todos riem…

 

HM – Essa foto aqui foi batida por José Ribeiro, que era chamado de Zé Padre.

Dona Lusia – Zé padre é irmão de Rui, que trabalhava nos correios.

A primeira casa era de Jorge Cominho, a segunda, de Luís Ribeiro, a terceira de Antonio Garcia, a quarta, de Abrão Salomão, a quinta, de Zezinho Ourives e a sexta, era a capitania. A casa de esquina, a primeira, depois da praça, era de Herculano Ericeira, pai de Milton Ericeira (Hoje, casa de dona Cota Ericeira).

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PAIOL

HM – Nessas viagens de lancha, vocês estiveram no Paiol, onde morava meu avô Clemente Muniz?

Josenir – Eu conhecia muito aquilo ali. Ia pra lá de lancha e de cavalo. Antoninho Oliveira, que tinha engenho, comprou uma caldeira, de segunda mão, do tio Lió. E tio Lió comprou outra, nova. Eu me hospedava na casa de dona Adélia, que era vizinha do seu Clemente. Cadê  Duca? (Filho do seu Clemente).

HM – Duca mora em aqui, no Anjo da Guarda.

Josenir – Ele passou uma temporada comigo, lá no Pindaré, na década de 1950, depois de uma confusão que aconteceu com ele, lá no Paiol…

 

HM – Vocês ficaram no Arari até que ano?

Joaquim – Faz 51 anos que eu saí de Arari.

Josenir– Eu e Chiquinho fomos morar no Pindaré.

 

HM – Essa aqui é a foto do engenho de Lió Pinto.

Josenir – Eu trabalhei lá, no engenho; eu e Joãozinho. Chiquinho também trabalhou. Pra cá havia um pátio grande, que era usado para espalhar o bagaço da cana.

HM – Agradeço muito ao sr. Joaquim Santos, à dona Lulu (Lusia) e ao Josenir  por esta entrevista que me concederam, e informo que ela será de grande valia para ararienses de hoje e de amanhã. 

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Por meio do engenheiro Francisco de Assis Fernandes Ribeiro, residente em Belém-PA, foi possível realizar esta importante entrevista com a sra. MARIA FERNANDES RIBEIRO, esposa de Enilde Fernandes Ribeiro. A Memória Arariense agradece.

Dona Maria Fernandes Ribeiro, Francisco e Dona Zoca.

HM – De quem a senhora é filha, quando nasceu, onde a sua família morava, em Arari, e qual a ocupação dos seus pais?

MFR – Sou filha de Flávio dos Santos Fernandes e Alzira Azevedo Fernandes. Nasci dia 05 de abril de 1935, numa casa simples, localizada na Rua Nova, próximo à capela Santa Luzia (nessa rua morava Joca Prazeres). Posteriormente fui morar na Rua da Beira até meus 16 anos. Quando casei, me mudei para a casa que pertencia ao Sr. Antonio da Mata Fernandes (conhecido como velho Toneco), localizada na Rua Pedro Leandro Fernandes. Lá residi de 1952 a 1970, quando saí de Arari.

Meu pai trabalhou em diversas atividades, sendo inclusive comerciante por algum tempo; tinha um barco a vela utilizado para transportar sal a granel, que era comprado na cidade de Vera Cruz (salvo engano), localizada próximo a São Luís. Depois, estocava todo o sal comprado num paiol, construído no quintal da nossa casa e revendia. Minha mãe era dona de casa.

HM – Onde fez os primeiros estudos e até quando viveu em Arari?

MFR – Na minha época, não havia escola pública ou particular na cidade; esta facilidade somente aconteceu mais tarde. Por isso, estudei muito pouco, e ainda em escolas que funcionavam na casa da própria professora, que era ao mesmo tempo a dona, diretora e professora da escola. Durante a minha vida escolar, tive somente duas professoras, das quais ainda lembro os nomes: Dedé de Donoca e D. Edith Silva, esta, mãe de Manoel Pezão. Morei em Arari até meus 35 anos, e em 1970 me mudei para Belém do Pará, onde resido até hoje.

HM – Quem eram as pessoas mais importantes que a senhora lembra (prefeito, delegado, comerciante, padre, fazendeiro, jogador de futebol etc), do Arari da sua época?

MFR – Lembro de algumas pessoas que, pela sua cultura, riqueza, poder, bons seviços prestados e comunidade, bem como pelo envolvimento político, tiveram papel de destaque na nossa comunidade dos anos 40, 50 e 60, dentre estas, cito: Padre Brandt, Antonio Anízio Garcia (prefeito), Tonico Santos (enfermeiro e dono de farmácia), Profª Tereza Garcia, Conceição de Maria Silva Fernandes, conhecida como profª Conci, Rui Ribeiro (gerente dos Correios), Bembem (prefeita), Pedoca (Pedro Leandro Fernandes, escrivão), José Fernandes (escritor, filho de Nestor Fernandes), Zé Martins (músico), Dr. João Lima (médico) e o prefeito Caiçara. 

HM – Quais os nomes de alguns dos seus amigos/amigas daquela época? Eles têm algum filho vivo?

MFR – Dentre as pessoas que aí convivi, com as quais mantinha laços de amizade, destaco as seguintes: Rui Ribeiro e sua esposa Zenaide Garcia, Cleide Fernandes, Diquinho Cardoso, Dodó Ericeira e sua esposa, D. Amazília, D. Zoca, mãe de Conci, a própria Conci e seu irmão José da Silva Fernandes. Exceto a Conci, todos possuem filhos ainda vivos, na faixa de 50 a 60 anos.

HM – Onde se localizavam a igreja, a prefeitura e a cadeia da cidade de Arari?

MFR – Sempre conheci a igreja da matriz localizada no mesmo lugar de hoje. Não recordo exatamente a rua da cadeia, mas sei que ficava por trás da igreja. Quanto à prefeitura, só tenho lembrança de quando a mesma funcionou em 3 salas da nossa residência, localizada na Rua Pedro Leandro Fernandes, durante o início da administração do prefeito Caiçara. Depois, não gravei a localização da mesma.

HM – Quais eram os festejos existentes na Arari da sua época e quais as principais ruas que existiam em Arari?

MFR – Presenciei vários festejos em Arari, dentre os quais, cito: anualmente aconteciam as festas tradicionais de Santa Luzia (13/12), Nossa Senhora das Graças (15/08) e Bom Jesus dos Aflitos (14/09). Existiam ainda outros eventos de grande tradição e sucesso como o Carnaval com Baile de Salão e Blocos de Rua, Bailes Dançantes no Cassino de Manuel Abas. As principais ruas da minha época eram: Rua Tucum, Rua Axixá, Rua padre José da Cunha D’Eça, Rua Pedro Leandro Fernandes, Rua do Cipó, Rua da Beira e Rua das Flores.

HM  – Quais as brigas políticas que a senhora lembra, ocorridas em Arari?

MFR – Recordo apenas dos embates políticos entre o Padre Brandt e Antonio Garcia, mais conhecidos como rixas entre BARRIGUISTAS e PADRISTAS.

HM – Quem eram as pessoas mais instruídas da cidade? Circulavam alguns jornais em Arari? Qual? Alguém publicou algum livro ou revista em Arari, no período em que a senhora lá viveu?

MFR – Dentre as pessoas instruídas que conheci, lembro do Padre Brandt, José Fernandes, José Benedito Pestana, Davi Maciel e José Fernandes Ribeiro, este irmão do meu esposo, que mesmo não morando em Arari, é filho da terra e sempre o conheci como uma pessoa de elevado conhecimento e cultura. Tinha ele ainda o hábito valioso de gostar de fotografias, isso desde a década de 1950. Hoje, passados sessenta anos, os registros fotográficos por ele produzidos mostram-se de grande utilidade para os amantes da História de Arari. Quanto a jornais, recordo apenas do Jornal Notícias, publicado pelo Padre Brandt.

HM – A senhora conheceu o sr. Thiago Fernandes?(Faleceu em 1948). O que poderia dizer sobre ele?

MFR – O sr. Thiago Fernandes era pai da sra. Ernesta, avó do meu esposo, Enilde Ribeiro (não cheguei a conhecê-lo, apenas ouvia falar nele).

HM – Que outras lembranças do Arari e da sua família a senhora gostaria de deixar registradas?

MFR – Um fato simples que ficou marcado na minha memória para sempre foi a festa de Santa Luzia, quando eu tinha 6 anos de idade.  Nesse ano o meu pai me levou para o arraial da festa que estava acontecendo próximo a nossa casa e lembro ainda com clareza do momento em que entramos na praça toda enfeitada de balões coloridos. As músicas eram executadas pela banda do músico José Martins, cujas melodias ficaram registradas no meu imaginário. Lembro bastante dos banhos e passeio de canoa no Rio Mearim, das frutas e dos peixes típicos de nossa cidade, principalmente do mandubé e curimatá. Recordo com saudades das temporadas que passava na casa do meu padrinho Maneco de Sá, na vila de Santo Antonio.

Outras informações sobre a minha descendência e do meu marido:

MARIA FERNANDES RIBEIRO:

Pai: Flávio dos Santos Fernandes

Mãe: Alzira de Azevedo Fernandes

Avô paterno: Raimundo Serapião Fernandes

Avó paterna: Júlia dos Santos Fernandes

Bisavô paterno: João Balbino Fernandes, que era irmão de Pedro Leandro Fernandes (2ª geração). Este era pai de Ernesta Raimunda Fernandes, esposa da Antonio da Mata Fernandes, vulgo Velho Toneco, que era avô de Enilde Fernandes Ribeiro, meu marido.

Avó materna: Maurícia de Azevedo

Avô materno: Manoel dos Santos Azevedo

Bisavô materno: não lembro

ENILDE FERNANDES RIBEIRO

Pai: Thiago de Souza Ribeiro

Mãe: Isabel Fernandes Ribeiro

Avô paterno: Valentim Ribeiro

Avó paterna: Inez Ribeiro

Avô materno: Antonio da Mata Fernandes (velho Toneco)

Avó materna: Ernesta Raimunda Fernandes

Tenho 4 filhos, todos nascidos em Arari, na década de 1950:

* Francisco de Assis Fernandes Ribeiro, engenheiro, reside em Belém do Pará;

* Izabel Fernandes Ribeiro, médica, reside em Imperatriz-MA;

* José de Ribamar Fernandes Ribeiro (Zequinha), médico, reside em Brasília-DF;

* Alzira Fernandes Ribeiro, professora, reside em Belém do Pará.